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Rejeição e liberdade

Atualizado: 30 de out. de 2020

Nossas escolhas são pautadas numa busca intrínseca por aceitação. Mesmo quem acha, conscientemente, que não age por esse viés, se buscar em profundidade se dará conta de que sua liberdade de escolha está alinhada com seu desejo intenso de provar algo para alguém ou para si mesmo. Alguns enxergam suas decisões como uma escolha racional, outros como uma escolha emocional. Seja por qual lado da dualidade o ser humano escolher se identificar, sua necessidade irá de encontro, irremediavelmente, à sua ânsia por encaixar-se. O retrato do medo inexorável e basal de rejeição.


Você já parou para analisar suas decisões. Já buscou entender suas motivações neste ou naquele momento. Tentou mensurar seus passos a partir de dinâmicas sociais, elencou as variáveis do tempo e do espaço, calculou inclusive suas capacidades e bagagem intelectual como se isso fosse capaz de determinar o caminho certo de sua reação, seja de maneira racional ou emocional. E então, quando o cenário real se apresentou encarou com perplexidade (e até mesmo com um pouco de descrença) a realidade de sua imprevisibilidade. Sim. E, ao pensar conhecer seus caminhos e reações o choque de ter que se olhar no espelho e encarar sua sombra pode deixa-lo extenuado, exaurido, por vezes enlouquecido, se não tiver consciência de algo que nos atinge a todos: somos seres mutantes.


Tudo está em movimento. O que você é também.

O código de conduta a que você foi exposto desde sua tenra idade permanece impresso na sua carne, na sua existência no momento atual. A diferença entre como ele te afetava antes e agora é apenas a sua percepção do momento. E essa percepção é manchada pelas experiências e pelos traumas que você adquiriu no percurso. Nosso corpo responde ao dia diferentemente de como responde a noite. Assim também é em relação ao tempo. E aqui eu não menciono o tempo com sua relação com o envelhecimento. A mutação acontece com o tempo, mas não de forma linear. É o tempo de reconhecimento de si e de aprendizagem em relação as suas deficiências e talentos que permite uma percepção produtiva de sua saga. A consciência só se consolida com a presença dessa dualidade: luz e sombra.

O sofrimento de encarar-se diante do espelho e enxergar os dois polos que te definem não é uma tarefa suave. Nossa covardia, ou despreparo, nos faz buscar mecanismos de auto sabotagem para adiar o enfrentamento dessa condição. A fuga do enfrentamento traz consequências tão ou mais desastrosas que a própria dor desse embate, mas não sabemos disso até nos permitir esse contato. Negação, agressão moral, comportamento auto destrutivo, despersonificação, somatização, isolamento, depressão, entre outras condições.

O medo do homem é, na verdade, o medo de não encontrar-se, de não pertencer a lugar nenhum, de seu próprio auto julgamento. Porque é possível supor que no julgamento alheio tenham se enganado a nosso respeito, porém, ao auto julgamento dificilmente somos capazes de escapar ilesos e descrentes das leituras que formulamos, por mais agressivas e impiedosas que elas sejam. Essa é a maior das rejeições que o homem pode viver, que o faz perder a crença de que sua existência tem propósito. É nesse contexto que se precedem as tentativas exasperadas de evitar o confronto consigo mesmo. Medidas paliativas para o enfrentamento final do qual nenhum de nós escapará. Aqueles que parecem tranquilos ou estranhamente apáticos diante de tais circunstancias tardiamente apresentam-se no palco com processos mais intrincados que os que aparentam estar mais visivelmente confusos. Nenhum de nós está imune ao espelho.


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