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ESPELHO: A Validação do mal

Atualizado: 31 de out. de 2020

Criado em 14 de agosto de 2019 - Transcrito do arquivo pessoal


Sempre tive um ímpeto muito forte para escrever. Não tenho o melhor dos apuros linguísticos, mas sempre tive fluxo. Tanto que chegava a me atrapalhar o sono. Era muito comum eu ter que escrever a noite para ser capaz de dormir. As palavras vinham a minha mente como um grito que só eu podia ouvir. Ou, em algumas situações como uma voz insistente que não cessava em querer argumentar. Eu dava vazão a ela, e assim surgiam esses textos. Válvula de escape mental.

Escrito em 14 de agosto de 2019

Refletir é algo que naturalmente fazemos, sem que para isso precisemos pensar que o faremos. É claro que muitas das nossas reflexões passam por nós como devaneios. Por esse motivo, normalmente não aprofundamos o pensamento de questões que por alguns instantes tomam a nossa atenção, mas que logo se dispersam por distrações do pensamento. Essa reflexão que compartilho, porém, foi insistente e incômoda. Tanto que não fui capaz de fazer as atividades que eu precisava fazer enquanto não me prontifiquei a expressá-la de alguma forma. Inicialmente foram alguns rabiscos no meu moleskine, apenas com a intenção de esvaziar a mente para que outras informações pudessem permeá-la. Foi apenas um stand by. Isso porque ela insistiu em se apresentar. Quando isso ocorre eu compreendo da seguinte maneira: O ES de Deus que permeia todas as coisas nos traz à memória coisas sobre as quais precisamos aprender, considerar ou buscar. E aqui estou para falar sobre o espelho.

Olhar para o espelho sempre foi para mim algo muito incomodo. Isso e algo normal do ponto de vista de quem não gosta muito de si e olha com severidade as próprias imperfeições. Mas não foi sobre isso que fui chamada a atenção. O espelho produz um reflexo. Ele não corresponde à verdade integral, mas oferece uma leitura do que reflete, e tem por função apresentar a imagem, promover percepção do que reflete. Sempre através da luz. Sem luz não há reflexo. Fiquei a pensar sobre o reflexo do tempo que estamos vivendo.

Olhando o reflexo da sociedade que vivemos podemos enxergar essa época como o tempo da validação do mal. Não entro aqui no mérito da ética e da moral nem pretendo apresentar como verdade fundamental minhas próprias crenças e costumes. Culturalmente falando, o modo de ser e o modo de agir podem sofrer variações conforme a sociedade em que está inserido. Mas, se pudermos falar de algo que está acima de definições humanas, que dissessem respeito a algo sobre o que não temos domínio. Ser humano é capaz de adaptar-se e suportar diversas coisas, mas, falando leigamente sobre a natureza humana, sem qualquer intervenção cultural, política, econômica ou distorções. Se nos pusermos em silencio e contemplarmos a nossa essência original permeada pela energia criadora de EU SOU, será que poderíamos ser convencidos de que muitas de nossas práticas, costumes e percepções estão desviadas do nosso proposito original: Seríamos capazes de perceber e compreender essa verdade:

O perigo da relativização de tudo nos leva a caminhos tão distorcidos que nem mesmo conseguimos nos enxergar no reflexo do espelho, mas sobretudo, não conseguimos enxergar a Aquele que deveríamos refletir. Não enxergamos a essência daquele de quem somos a imagem e semelhança.

Somos uma sociedade adoecida. Como um animal de pernas quebradas. A funcionalidade é mantida através de muito sofrimento e adaptações que não permitirão o desenvolvimento de todo o potencial existente, na ilusão de que, pq ainda é possível andar, mesmo que de forma grosseira e ineficiente, o resultado será alcançado ou mantido. E não será.

Talvez você discorde de mim, mas aquilo que nos parece muito natural hoje leva de nós os limites que nos mantinham em segurança. E nos tornamos sem identidade, coisas amorfas e sem definição.

Até mesmo no nosso entretenimento demonstramos nossa degradação ao torcer veementemente por um grupo de ladroes que introjetaram na nossa mente que roubar é aceitável desde que não prejudique ninguém. Essa mesma lógica transforma coisas abomináveis em confabuláveis do ponto de vista da concessão, ignorando a deterioração da identidade e do respeito mútuo que deve existir no convívio social. A ilusão de que ninguém foi prejudicado se apresenta quando o mecanismo demonstra sua fragilidade e a conexão que existe entre cada um de nós. O equilíbrio é quebrado. E somos transformados naquele animal com mobilidade prejudicada, pensando que vai chegar a algum lugar.

Não estou falando que não devemos questionar condutas outorgadas, mas que devemos permitir e solicitar da sabedoria do alto a compreensão de todas as coisas para não vislumbrarmos a verdade apresentada a nós de maneira distorcida.

Qualquer desvio é justificado pelo sofrimento, ou pela história, ou pela condição que impeliu seu agente a escolhê-la. E nesse contexto nos vemos levados a justificar, ao invés de agir em conformidade com a norma, com arrependimento e correção de atitude.

O erro deve sempre ser um acidente que devemos de forma basilar evitar, com força vital e desejo total. Somos uma sequência de erros, mas devemos buscar ser um compendio de estratégias para driblar nossa inclinação para o mal. Atentar para a fraqueza que existe em si, é a maneira de garantir que ela nunca venha a te derrubar. E se derrubar, não produzir agravo suficiente que não o permita de se levantar. Conhecer a si mesmo lhe permite preparar seu espírito para a batalha, seja ela qualquer que seja, qualquer desafio que se apresente.

O relativismo de considerar que o inimigo não é um inimigo pode te colocar em uma situação de tamanha vulnerabilidade que o impacto de seu ataque pode gerar um efeito desastroso e perene. E isso não é algo simples. A justificação só produz efeitos benéficos quando está vinculada ao sentimento de contrição e entusiasmo pela mudança.

O caminho mais fácil quase sempre não é o caminho oportuno para a evolução e crescimento. Entenda por fácil o caminho mais cômodo. Não falo aqui do comportamento passivo nem de resiliência, mas da decisão que nos impele a enfrentar os monstros de nós mesmos, e as feridas cobertas que parecem saradas, mas que continuam apodrecidas nos tirando a percepção e a sensibilidade.

Equilibrar não significa achar medidas paliativas para um funcionamento medíocre. O equilibrar para potencializar pode ser tão doloroso quando expressa a figura de linguagem proposta pelo oleiro que quebra seu vaso de barro para fazê-lo de novo. Isso não significa também que não haja correção que possa tornar saudável aquilo que estava disfuncional. Afinal, se estamos secos por não deixar fluir a água, quebramos. Mas se somos permeados pela água, nos tornamos maleáveis, e nem por isso deixamos de ser barro. Maleabilidade aqui não se relaciona a permissividade, mas a preparação consciente. Pq permissividade pode, ao invés de nos tornar massa em condições de ser moldada, nos transforma em lama, amorfa.

Limites determinam identidade. Nao posso determinar uma figura geométrica se não visualizo seus limites. E, mesmo que pareçam para os desavisados e hedonistas uma afronta, agravo maior estão sofrendo eles por se tornarem figuras não identificáveis.

O dimorfismo de nossa sociedade é o compendio de todas as falhas humanas juntas, condescendentes e não remidas. Somos todos culpados, igualmente. O distanciamento de quem quer se eximir de sua responsabilidade nesse todo o torna ainda mais culpado desse efeito. Lutando de forma facciosa não percebemos que vivemos uma guerra compartilhada, e dividimos as forças ao invés de juntá-las.

Se fazemos parte todos de um mesmo corpo, porque nos tornamos como doenças auto imunes, atacando o organismo: A percepção de unidade que temos limita-se apenas ao órgão a que nós pertencemos, ou somos um organismo. Um organismo saudável é capaz de equilibrar seu funcionamento quando uma parte dele está em sofrimento. Trabalho em equipe. Homeostase.

E não adianta se posicionar como alheio a tudo na sociedade. Você faz parte dela, e é responsável por ela dentro de seus limites de atuação.

O processo de cura deve começar dentro de nós, ativamente. E nunca de forma passiva e limitante. Precisamos pagar o preço de ser aquilo para o que fomos criados, espelhos do nosso Criador. É difícil refletir de forma precisa e exata a grandeza do detentor da Luz, mas, mesmo em nossa limitação, qualquer raio de luz que possamos apresentar dará ao outro o vislumbre de quem é Aquele de quem somos, de quem temos a imagem.

Não me prendo a religiões. Deus se relaciona como ele quer, como ele determina. Mesmo na nossa ignorância, ainda assim Ele quer nos permear com a sua graça e vida. E ele não se limita a nossa incapacidade, falta de entendimento, ou distorção perceptiva. Porque ele E, e não pode deixar de ser o que E. A única coisa que Ele espera é convite. Não é perfeição, não é compreensão, é só convite. Porque graça ele tem para qualquer que a queira, e Ele é poderoso e soberano para nos transformar no que ele quiser.

E ele sabe que não somos infalíveis, muito longe disso. E é por isso que Ele só espera convite. Nada mais.

Agora faça um exercício. Feche seus olhos e contemple a si mesmo no espelho, suas atitudes, suas ações e seus pensamentos, e veja se você reflete a imagem daquele a quem vc pertence.

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