Minha maneira de expressar alguns dos meus processos internos é escrevendo. Faço isso desde os meus 13 anos. Essa foi a maneira que encontrei de lidar com uma personalidade extremamente impulsiva, agressiva e represada. Escrevia muito para tirar o nevoeiro da mente. Algumas questões se repetiam muito. Muitos dos textos me irritam, e até me envergonham. Mas, depois de certa idade aprendi a enxergá-los como meu processo. Precisei olhar para cada um deles como se não tivessem sido produzidos por mim, com a mesma complacência que teria a uma pessoa amada. Porque, de fato, eu não era uma pessoa amada para mim mesma. E a mudança dessa condição é lenta e custosa.
Abaixo compartilho alguns de meus textos com a data que foram escritos. Honestamente não me lembro o que me ocorria na época, e nem fiz questão de voltar a memória para investigar.
Permiti a fluidez das palavras e do que senti, sem muito julgamento. Tenho certeza que na época eu já fiz isso com muito rigor.
Palavras fluidas servem para aliviar a alma. Elas não precisam ser ouvidas nem lidas, mas precisam cumprir a função das águas. Por isso equilibram-se aqueles que falam consigo mesmos, e confundem os que imaginam que falamos sozinhos.
24.07.2016
Língua estranha
Chora a voz de quem
Canta, escreve, compõe
Na mancha de tinta, na linha, rabisco
Nas notas, palavras,
Harmonizo um sussurro triste, difícil de explicar.
Tem fluência na arte o que é inexprimível.
E é tão legível por quem tem aquela voz!
Loucura e desconexão
Para quem não tem a língua pra compartilhar.
Emerge, voz suprimida,
Que nem todos ousam expressar.
Uma voz compartilhada, coletiva
Um choro, um gemido, falta de palavras
Uma dor, um tormento que quase ninguém vê.
Ou que vê e não enxerga!
Ou que enxerga e se adequa!
Indecifrável ao insensível .
Sensível ao silencio.
Sensível a voz do vento.
Sensível ao que fala dentro.
Que sacode a alma como furacão
E move o ser, sem escolha.
Pura expressão, inevitável, forte, arrebatadora.
Língua estranha ao distraído,
Audível aos peregrinos conterrâneos,
Nativos de um mesmo lar longe daqui,
Que anseiam o retorno
À pátria que está para chegar.
Canto de quem quer voltar.
25.07.2016
Metamorfose
Transforme a raiva em um mar sem ondas
E a indignação em metamorfose
E veja nascer catatonia
Um olhar vazio, opaco e sem vida
Talvez você se sinta vazio
É só aquela voz gritando dentro de você
Querendo sair, querendo dizer
Que os seus sentidos não estão atordoados
Apesar de você fingir um sorriso pra agir a paz
Ela nem sempre traz o final feliz
É possível que tenha que fazer morrer
Isso que te consome por dentro
E só se faz calmaria com uma guerra eficaz
A violência pode não ser aparente
Mas no final, os pedaços no chão serão os seus
Que mal há nisso se somos amorfos
Então se desconstrua, quebre-se, destrua
Toda a certeza daquilo que te fizeram
Para ver renascer nos cacos aquilo que você é
E respirar um novo mundo de possibilidades
Disforme você encontra a origem
E deixe-se formar nas mãos originais
No projeto inicial
Rechaça todo o desvio do percurso
Que te fez um produto do caminho
Para ser a essência dAquele
Que te fez pra ser dEle.
Então voará ao se encontrar
04.08.2016
SE eu for embora
Se eu for embora ...
Eu não sei a hora
Pode ser depois,
Pode ser agora
Quero que se lembre
Do que vou dizer
Pode ser que eu volte
Ou talvez demore
Não vou porque quero
Mas talvez tenha que ir
Quando demorar
Quero que recorde
Bons momentos juntos
E estarei presente
Quando demorar
Você pode chorar
Porque saudade dói
E quer dizer que é amor
Quando eu demorar
Não tenha raiva de mim
Se eu pudesse
Ficaria bem aqui
As vezes vou porque você precisa
OU talvez porque preciso eu
As vezes vou porque nosso PAI chama
Para que nem eu, nem você, soframos .
Mas se eu vou, uma coisa sei
Eu pra sempre te amarei
Mesmo se vou, isso não vai mudar
Meu coração estará no mesmo lugar
Mas se eu vou, uma coisa sei
Um dia vamos nos reencontrar
Pode ser na terra, pode ser no ar
E a saudade vai se dissipar
Quando demorar
Eu quero que lembre
Não quer dizer que é pra sempre
Espere o dia de luz chegar
Vamos juntos permanecer
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